Morro do Castelo

Desenho dos espaços da cidade conforme Cardim. Ilustração de Lorenna Coutinho. O missionário Fernão Cardim (1549-1625), em sua Narrativa epistolar e uma viagem e missão Jesuítica, registra tanto os acontecimentos de sua viagem ao Rio de Janeiro levando a relíquia de S. Sebastião, quanto nos contempla com o panorama da cidade colonial no Morro do Castelo, fazendo descrições bem precisas e elogios à cidade enquanto faz algumas comparações com as terras de Portugal.

Esta capitania do Rio dista da Equinocial 23 graus para o sul, e da Bahia 130 léguas, é muito sadia, de muitos bons ares e águas...

Cardim também fez observações sobre o Morro do Castelo onde a cidade estava situada e relata como ela estava dividida, criando-se um panorama rico em exaltações para a Baía de Guanabara, o mar, e toda natureza ali presente. Entretanto, o autor também apresenta uma exposição das dimensões do local, dessa forma, criando uma paisagem delimitada.

A cidade está situada em üm monte de boa vista para o mar, e dentro da barra tem uma bahia que bem parece que a pintou o supremo pintor e architecto ...

Ilha de Villegagnon

Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Vilegagnon. Foto de Marc Ferrez. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/browse?value=Forte+da+Ilha+de+Villegagnon&type=subject A antiga Ilha de Villegagnon, e hoje, a tradicional Escola Naval, foi mencionada por Jean de Léry, este era um calvinista e trabalhava como sapateiro, que decidiu-se juntar a um grupo de protestantes para ir à França Antártica, a colônia francesa que se situava na Baía de Guanabara. Jean de Léry publicou duas obras descrevendo o Brasil e os índios, e em uma dessas obras chamada Viagem à terra do Brasil faz descrições da ilha de Villegagnon.

Uma légua mais adiante encontra-se a ilha onde nos instalamos e que, como já observei, era desabitada antes de Villegagnon chegar ao país...

O padre André Thèvet também decidiu se juntar ao grupo de protestantes franceses, dessa forma, ambos André Thèvet e Jean de Léry vieram ao Brasil na expedição de Villegagnon, que tinha como objetivo montar uma colônia de povoamento formada por calvinistas que estavam sendo perseguidos na França. Além disso, André Thèvet publicou a obra chamada “Les singuliaritez de la France Antarctique” que também compartilhava suas observações sobre o Brasil, mas misturava um pouco de fantasia em seus relatos.

Cais do Valongo e Cais da Imperatriz

Cais do Valongo. Disponível em: https://portomaravilha.com.br/africadetalhe/cod/3 Localizado na Rua Barão de Tefé, na Zona Portuária do Centro, encontra-se o Cais do Valongo, antigo mercado de escravos africanos, que entre 1811 e 1831, por volta de meio milhão de escravos passaram pelo local. Além disso, em 2017, recebeu o prêmio de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. Por fim, com o passar do tempo, o Cais recebeu algumas mudanças, a primeira foi a reforma de 1843, quando seu nome passou a ser Cais da Imperatriz, e passou pelas reformas urbanas do governo de Pereira Passos, quando foi aterrado e esquecido.

Existem diversas referências do Cais na literatura. O relato da britânica Maria Graham (1785-1842), que foi pintora, escritora, desenhista e historiadora, tendo visitado o Brasil três vezes:

1° de maio — Vi hoje o Val Longo [Valongo]. É o mercado de escravos do Rio. Quase todas as casas desta longuíssima rua são um depósito de escravos. Passando pelas suas portas à noite...

Graham, no dia 1° de maio de 1823, visitou o Valongo e descreveu, principalmente, a organização do mercado de escravos, tendo em vista que, nesse período da visita, foi uma época de grande circulação de escravos. Dessa forma, todo local era um complexo onde existia um ponto de desembarque que era o Cais do Valongo, os galpões de depósito, e o Lazareto da Gamboa, localizado no Monte da Saúde, este era usado para quarentena tratamento médico dos escravos.

Antiga Praça do Comércio - Hoje Casa França-Brasil

Casa França-Brasil. Disponível em: http://casafrancabrasil.rj.gov.br/ Localizada na Rua Visconde de Itaboraí, hoje a Casa França- Brasil, foi projetada pelo arquiteto Grandjean de Montigny e encomendada por D. João VI, fazendo parte de uma série de construções da missão artística francesa. Foi, inicialmente, um prédio da Praça do Comércio, porém não ficou muito tempo imbuído nessa instituição, por volta de um ano depois, houve uma revolta popular que ocasionou o fechamento do local até 1824, quando foi transformada em uma alfândega. Só em 1990 que é feita uma restauração do prédio, que se torna até os dias atuais a Casa França - Brasil.

Rua Matacavalos – hoje Rua Riachuelo

Ponto de interesse turístico localizado no antigo bairro da Lapa, berço da boemia e que abriga os conhecidos Arcos da Lapa, antigo aqueduto do Rio colonial:

“Um dia. há bastantes anos, lembrou-me de reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu”.
(ASSIS, [1899], 2016, p. 6)

Paço Imperial

Centro cultural Paço Imperial. Arco do Teles. Disponível em: https://visit.rio/ O conjunto arquitetônico da Praça Quinze é uma importante edificação que atravessou os períodos Colonial, Imperial e tendo permanecido na paisagem urbana até os dias atuais.

Da face principal via-se o mar, isso já ficou dito; da face do norte via-se o chafariz ainda no meio da praça, e já então, ou mais tarde, a casa dos Teles defronte.3 Os Teles foram homens notáveis no Rio de Janeiro pela sua riqueza e pela sua posição. A sua fama ficou perpetuada por um arco, que tomou o nome deles, e que não é mais do que um passadiço. (MACEDO, [1862], 2005, p.37)

Teatro Municipal

Theatro Municipal. Disponível em: http://theatromunicipal.rj.gov.br Inaugurado em 14 de julho de 1909, em plena efervescência da Belle Époque. Conta com obras de Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e os irmãos Bernardelli.

Amanhã é a inauguração do Municipal, o grande acontecimento da estação […]. Mas na estreia do Municipal a grande comoção, o misterioso tremor que empalidece a face e ilumina os olhares, é o que sentirá o Dr. Oliveira Passos ...
(Julia Lopes de Almeida, 1909)

Mercado das flores

Mercado das flores. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2773 O mercado das flores foi inaugurado em 1904, tendo sido idealizado por ex-abolicionistas, na praça Olavo Bilac.

Não pode haver profissão mais própria para uma mulher do que essa de vender flores e é com certeza muito mais decorativo e interessante aos olhos de quem passe ...
(Julia Lopes de Almeida, 1910)

Ilha Fiscal

Disponível em: Ilha Fiscal | DPHDM (marinha.mil.br) Importante ponto de interesse turístico, a Ilha Fiscal foi construída em estilo neogótico, tendo ficado pronta em abril de 1889 e em novembro desse mesmo ano abrigou o último baile do Império.

Os bailes de algumas sociedades já anunciados para o sábado, dia imediato ao do falecimento do monarca, foram adiados, tal qual o famoso ...
(POMPÉIA, [1889], 1982, p. 91-92)

Casa Cavé

Riotur. Foto Alexandre Macieira, 2015. Disponível em: Casa Cavé | Riotur.Rio A Casa Cavé é a mais antiga confeitaria do Rio. Fundada em 1860 e pela sua importância arquitetônica, é um edifício tombado pelo patrimônio histórico. Rua Sete de Setembro, 133. Centro - Rio de Janeiro.

Quantos habitantes tem a cidade? Tem uns oitocentos ou novecentos mil. [...] é preciso notar que, desses oitocentos ou novecentos mil habitantes, há apenas alguns mil (bem poucos!) que podem ter vida inteligente e elegante. São sempre as mesmas pessoas que vão ao Corso, que frequentam hotéis, que ouvem óperas no Lírico, e tomam chá no Cavé e cerveja na Franziskaner: são sempre as mesmas poucas pessoas, que todas se conhecem umas às outras, e mutuamente vivem a espiar-se e a imitar-se.
(BILAC, 1908, p. 1)

Confeitaria Colombo

Disponível em: Confeitaria Colombo Confeitaria Colombo é um importante ponto de interesse histórico e turístico, a Confeitaria fundada em 1894 faz parte do patrimônio histórico da cidade e foi nesse espaço que Olavo Bilac foi coroado príncipe dos poetas. Rua Gonçalves Dias, 32 – Centro – Rio de Janeiro.

Todas as tardes, no Castelões, no Pascoal, no Colombo, em todas as confeitarias da moda, veem-se senhoras de boa família que conversam amavelmente com os garçons, e chegam mesmo a lhes dar a mão a apertar, com uma afabilidade que revolta.
(FANTASIO, 1895, p. 1)¹

¹ Fantasio é um pseudônimo do escritor Olavo Bilac.

Rua do Ouvidor

Disponível em: A Rua do Ouvidor tem história pra contar - Cultura em Movimento A Rua do Ouvidor (Rua do Ouvidor, s/n - Centro - Rio de Janeiro – RJ) foi a mais importante do Rio de Janeiro. A rua foi assim nomeada, porque em 1870, o ouvidor Francisco Berquó da Silveira, oficial de justiça da cidade, passou a ocupar uma casa na esquina com a Rua do Carmo.

A Rua do Ouvidor era “a rua mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica”, como escreveu Joaquim Manuel de Macedo, em suas Memórias da Rua do Ouvidor:

Como empreendo viagem pela Rua do Ouvidor com os meus leitores por companheiros obrigados e começo a viajar pelo primeiro quarteirão...
A Rua do Ouvidor constitui um corredor cultural e um ponto de interesse turístico. Hoje, temos o Samba do Ouvidor, localizado na Rua do Ouvidor - Rio de Janeiro, RJ. É um espaço atrativo para cariocas e turistas, com músicas ao vivo, culinárias cariocas e bastante samba no pé.

Igreja do Outeiro da Glória

No decorrer do século XVII foi erguido um pequeno templo dedicado à Nossa Senhora da Glória, no morro hoje comum como Outeiro da Glória (Praça Nossa Sra. da Glória, 26 - Glória, Rio de Janeiro - RJ, 20241-180), que primitivamente beirava o mar e se chamava Uruçumirim. A atual igreja foi edificada em princípios do século XVIII e concluída em 1739, segundo projeto atribuído ao tenente-coronel José Cardoso Ramalho.

Ao cabo de grande porfia, descobriram que havia o caminho desaparecido pelo desmoronamento de uma grande rocha, a qual formava uma como ponte suspensa sobre o despenhadeiro da íngreme escarpa....

José de Alencar em Alfarrabios, nos descreve o local como uma lógica de fascínio e destreza ao vislumbrar a arte do Outeiro da Glória. Local turístico na cidade do Rio de Janeiro, principalmente para devotos e afins.

Lapa

Disponível em: Lapa | Riotur.Rio Nos dias de hoje o bairro da Lapa é bem famoso por seus bares, pubs, restaurantes e boates e por sua variedade musical que contempla todos os gostos. Além da vida noturna, o bairro é um dos mais antigos do Rio de Janeiro e nos contempla com marcos arquitetônicos, como os Arcos da Lapa, também conhecido como Aqueduto da Carioca, e espaços históricos e culturais, como a Sala de Concerto Cecília Meireles, o Museu Histórico da Lapa, a Catedral Metropolitana, entre muitos outros.

Rua Direita

Encontrada no Centro da cidade do Rio de Janeiro, a Rua Direita foi aberta no final do século XVI, sendo uma das primeiras ruas a ser feita e reconhecida como o coração da cidade no período colonial, por unir o Morro do Castelo e o Morro de São Bento, e por ser, segundo o Chamberlain (1972. P.166) - a grande via comercial. Ademais, na rua havia casas comerciais, confeitarias e restaurantes de culinária europeia, a Alfândega, a Praça do comércio e o primeiro Banco do Brasil, sem contar as igrejas que acompanharam a evolução da antiga Rua Direita para a Primeiro de março: a Igreja Santa Cruz dos Militares, a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (antiga Sé) e a Igreja de São José. Chamberlain em Vistas e Costumes do Rio de Janeiro, assim descreve as igrejas:

A igreja branca, no morro acima do molhe de canhões, com duas pequenas tôrres negras e cônicas...

No ano de 1870, a Rua Direita teve seu nome trocado para Rua Primeiro de Março para comemorar o fim da Guerra do Paraguai, seguindo com este nome até os dias atuais. Hoje em dia, a Rua Primeiro de Março continua muito movimentada e integra o corredor cultural do Centro da cidade, onde podemos encontrar o Centro Cultural Banco do Brasil, o Centro Cultural da Justiça Eleitoral e o Centro Cultural do Movimento Escoteiro.

Gamboa

Disponível em: EBC | Projeto Porto Maravilha tem mais uma etapa concluída no Rio Localizada na Zona Portuária do Rio de Janeiro, a Gamboa, do século XVIII ao XIX, foi recinto de visitação aristocrática. No fim do século XIX, os mais favorecidos socialmente e economicamente acabaram se deslocando para outros pontos da cidade, fazendo com que a Gamboa entrasse em declínio de visitação. Com o início do século XX, ocorreram as reformas estruturais de saneamento para a construção do porto do Rio, o que afastou a Gamboa do mar. Em ‘’Conto de escola’’, de Machado de Assis, há a citação da Praia da Gamboa – praia essa que foi um recinto tanto histórico de beleza quanto de recursos de subsídios, como a pesca;

[...] Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas...

Outro apontamento sobre a Gamboa é encontrado em Quincas Borba, também de Machado de Assis. Ao descrever o personagem Rubião, no ato de passear, confusamente, pelas ruas, Machado aponta um sentimento de nostalgia do personagem;

Rubião deteve-se alguns minutos diante daquilo. O sujeito, vendo-se objeto de atenção, redobrou o esforço no brinco; perdeu a naturalidade...

É interessante como os autores retratam a Gamboa, principalmente no que concerne à Praia da Gamboa, lugar de demasiada visitação e atividades de pesca. Tais fatores, a partir do século XX, começaram a desaparecer, modificando as esferas no que tange à cultura e economia. A Gamboa, então, passou a fazer parte da então conhecida Zona Portuária, que hoje foi revitalizada. Além disso, com as Olímpiadas de 2016, surge o VLT, veículo leve e de fácil acesso – ocasionando visibilidade para os polos de cultura e arte.

Contato

Local

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Endereço

Av. Horácio Macedo, 2151 - Sala D66
Rio de Janeiro, RJ - 21941-917

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